Conversa de lava-louças
Ela vem me dizer que a verdade é melhor que tudo, e eu só posso responder que não concordo. Apresentar meus argumentos a faria sofrer. Ela insiste: "Quem fala a verdade não merece castigo". Como assim? Aí eu lembrei de alguém que disse algo como "tem muito mais maldade no que é verdadeiro" e tal. Não é difícil visualizar o clichê de alguém que paga por ter dito a verdade. Paga com a vida, estraga todos os mecanismos do próprio corpo e só consegue ver o triste. E depois tudo é um grande desperdício do aroma de baunilha.Agridoce, amargo no final.
Tudo era bom antes, digo, diante dos três pratos sujos de molho de tomate. Mas pelo menos agora posso lidar melhor com a morte e todas as circunstâncias que podem vir por aí, penso, nas reticências. Ela responde que não era bom, mas que eu era pequena para ver o que era ruim, do que eu me lembro. Aí eu digo uma verdade: "Poxa, mas eu nunca fui a um enterro". Apenas constatação.
Também tem aquela parte de descobrir tarde demais que o mundo é uma hostilidade só. E que na maioria das vezes eu não consigo me livrar daquilo que me faz mal, e só consigo ter saudade, lembrança sem idéia.
Hoje eu sonhei que um japonês vestido com roupa de astronauta pegava na minha boca com uma pinça e dizia: "Sua boca está podre, por dentro e por fora. Você vai perdê-la em poucos dias". Rimos, e ela diz que eu ando mesmo falando muito palavrão. Penso que queria resumir tudo e ter a idade da minha mãe, apesar dos filhos e das louças para lavar.
1 Comments:
mui belo, aroma de baunilha, mui belo
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