quarta-feira, dezembro 28, 2005

Razor blade



My feelings are more important than yours
Drop dead, I don´t care, I won´t worry
Sweetheart,
your feelings are more important, of course

E la nave và

- Pausas para o mundo real.
Momento I
0h35 do dia 25/12
Preparar um prato com a ceia do porteiro e descer para desejar um feliz natal. Lavar toda a louça usada durante a ceia, achar copos escondidos, esvaziar latas de cerveja, enfiar a mão em uma panela cheia de gordura da carne de porco. Armazenar salada, tâmaras, hamus, berinjela e tudo o mais na geladeira. Guardar as frutas, varrer a sala. E claro, falar da vida alheia. Minha barriga ficou molhada, percebe?

Momento II
14h40 do mesmo dia 25/12
Morrer por um cigarro em um dia sem lei e sem comércio aberto. Catar o chinelo e lutar por nicotina. Em um campo de batalha completamente deserto, Brasília podia deixar de existir neste dia, para evitarmos a cena. Atravesso a rua pelo meio do retorno, desolador no osso. Um ciclista com uma lata de cerveja na mão grita a porra do feliz Natal e recebe como resposta um "Ai, que susto". Sai indignado, o pobre. Não era hora de falar comigo. Foi o segundo Feliz Natal que eu recebi em dois dias. Passou da conta.

Momento III
15h30 da merda do 25/12
Fumar cigarros e olhar para o teto de estrelinhas coloridas. Com a casa vazia. Finalmente uma atividade da qual se pode ter orgulho. E satisfação.

Momento IV
16h daquele dia que parece não ter fim
Amigos, ah os amigos. DVD do Bob Dylan by Scorsese da Lílian. E tem também o Fred Cão que aceita carinho com o pé.

:.Moral da história.:
#1 - Só é bom depois que acaba!
#2 - Nada como o Natal - dos infernos

E la mierda de la nave và
La dolce vita?!

sábado, dezembro 24, 2005

Que pena

Não é assim, pedir e ter.
Peço para a dor parar e olha o que me acontece.
"Para falar a verdade, eu não quero saber".
É Natal e as pessoas trabalham como escravas.
Carros aparecem destruídos em avenidas sem mais nem menos.
Mobilizam polícia e bombeiros. Ferragens, óleo na pista e vidro moído.
É tudo muito rude, é tudo muito tosco.
Opções de get a life, get yourself a fucking life.
A felicidade de escolher o pior.
Eu quero estar ali:

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Porque sim

Uma culpa cristã fica guardada na gaveta do novo criado-mudo.
Porque eu quero, eu acho.
Da calorosa discussão sobre o objeto da vontade, sobre a punção de uma vontade não-revelada - nem que seja a morte - consigo ter dúvidas mais profundas. Quero saber mesmo, e em dupla, se a foca é um mamífero. E a dúvida se amplia, o assunto se torna cada vez mais obscuro. Temos os golfinhos, mamíferos que nadam; a baleia etc etc etc
Consigo variar, variar muito até chegar no nada. Voltar para a discussão anterior e duvidar sempre da sanidade única que costumava me acompanhar antes que eu me tornasse péssima. Estão todos em plenas condições de decidir qualquer coisa, uma que seja.
Para dias como estes, para gastar o tempo de um feriado solitário, coisas práticas funcionam. Lave o carro e veja como existem muitos carros sujos por aí. Alguns têm até um farol queimado. Melhor tomar cuidado com os guardas.
Menos de 20 km até a cidade alta.

Well when I see my parents fight
I don't wanna grow up
They all go out and drinkin all night
I don't wanna grow up
I'd rather stay here in my room
Nothin' out there but sad and gloom

segunda-feira, dezembro 19, 2005

– Não, não consigo acreditar. Tenho certeza de que já lhe ocorreu desejar uma outra vida.
Respondi-lhe que, naturalmente, mas que isso era tão importante quanto desejar ser rico, nadar mais depressa ou ter uma boca mais bem-feita. Era da mesma ordem. Mas ele me deteve e quis saber como eu imaginava essa outra vida. Então, gritei:
– Uma vida na qual pudesse me lembrar desta vida.

sábado, dezembro 17, 2005

Silêncio

Ninguém se mexe. Porque eu quero que o tempo fique. Porque ainda tento fazer tudo parar e permanecer em um instante. Porque se tivesse que acontecer tudo de novo e eu pudesse escolher onde parar, seria... ali. Já foi. Ninguém mais se lembra, só a minha própria memória dos infernos.
((in many ways, we'll miss the good old days. sometimes, sometimes))

segunda-feira, dezembro 05, 2005

O ser da não existência infinita

Foto ausente: 1949. Albert Camus visita a Mangueira e se junta à roda de samba. No centro, Cartola. À esquerda, o filósofo, acompanhado de Oswald de Andrade.

Legenda equivocada: índia botocuda devora milho cozido com sal no sofá, em frente à TV. Pensa que é feliz e se lembra da voz que diz de um "sorriso que ilumina". Ana Clara foi para o inferno e voltou com uma boca cheia de dentes. Só pode ser piada.

Sem idéias, apenas lembranças distorcidas, vultos de lágrimas que não deixam ver. Não aprendeu matemática. Sabe até contabilizar bem os eventos, apesar de não decidir se soma, divide, multiplica ou subtrai.

Quando o simples ato de fechar as cortinas antes de dormir se transforma na imagem do mais puro desespero. Da dor infantil, psicológica sempre, vazio sem fim. A droga do cotidiano, o prosaico persegue, manda seguir em frente.

Um ano acabando, sofreguidão e ansiedade por um novo período sem tanta melancolia. Nem que seja na marra. Nem que seja à base de aiuasca, i.e., usada para se atingir o autoconhecimento a partir de mirações. Para quem sempre odiou all hippies.

No mais, não custa confiar no papel jornal:
LEÃO: Há chance de que você receba um convite de um superior, um chefe, ou pessoa que detém mais prestígio e poder do que você nos negócios. É confiável. E há a possibilidade de você ser seriamente enganado por alguém hoje. Tome suas providencias para minimizar essa tendência.