terça-feira, outubro 26, 2004

I like pleasure spiked with pain

O dormonid é o midazolam, um hipnótico (medicação usada para induzir ao sono) do grupo dos BENZODIAZEPÍNICOS.

A indução ao sono começa em 15 minutos, sendo que o PICO de ação varia de 30 minutos a 1 hora, e o tempo de duração do efeito de 2 a 6 horas. Como todo benzodiazepínico possui o efeito de SEDAÇÃO.

OS HIPNÓTICOS possuem as seguintes características: RÁPIDO início de ação para que o usuário durma logo depois de tomá-lo, e rápido tempo de eliminação para que o usuário não fique sonolento depois da hora de acordar. Por seu curto tempo de ação, apesar de ter efeito CALMANTE não deve ser usado com essa finalidade.

O uso da medicação para ajudar a dormir é o modo mais fácil de regularizar o sono: basta tomar um comprimido antes de dormir. Muitas vezes é necessário mudar alguns hábitos, como NÃO DORMIR durante o dia, não tomar mais do que cinco xícaras de café por dia e nenhum café depois das 16h; evitar atividades físicas antes de dormir bem como FILMES EXCITANTES. As medicações com possível efeito estimulante devem ser tomadas o mais cedo possível.

Antes de TUDO, é necessário verificar as causas da insônia. É comum um paciente ter como principal queixa a insônia, mas na verdade estar DEPRIMIDO, por exemplo. Nesses casos um remédio para dormir não vai resolver.

Pacientes com cirrose hepática terão o tempo de ação dessa medicação prolongada.As substâncias que deprimem o cérebro como anti-histamínicos, ÁLCOOL, barbitúricos potencializam o efeito do DORMIRE. Pacientes com as seguintes doenças devem receber uma atenção especial para o uso: pacientes com insuficiência cardíaca, insuficiência renal ou hepática, com PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS e idosos.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Escatologia do 3º grau

[Ou: Desculpe-me pela falta de educação]

Eu odeio o ser humano. Bem antes de ter presenciado o mau/sinistro comportamento de quem quer que seja eu odeio os seres humanos. O ser humano não é apenas um brinquedo engraçadinho, mas finge ser e isso é irritante. Um kanteano tropical não é diferente de um texano ranzinza e descerebrado. Um merda, dois merdas, 2 milhões de merdas populando mundo. O juízo do sublime, o juízo desinteressado, as más vontades, a vontade de poder, a estética do feio. Nada adianta e nada vai mudar. Um grande gênio, um belo exemplo de filho da puta. No lugar dos animais de estimação, um engraxate passa frio em um posto de gasolina. “Deixe o seu cachorro aqui”, é onde ele escolhe ficar para pedir um lanche. Enquanto isso, em uma casa sinistra perto do lago, alguém chora com a morte de Deus, com Zaratrusta ou o diabo que o carregue.

E quando eu digo que todas as pessoas são iguais, quero dizer que ninguém é insubstituível, ninguém é indispensável. Procuramos nos outros o que mais nos agrada em nós mesmos. E depois é só repetir as mesmas frases bonitas, as mesmas citações, as mesmas idéias, tudo. E não parar um só segundo de amar aquela pessoa de antes, que é a mesma de sempre, que é você. Preciso me esforçar mais para odiar (também) as flores, músicas de flores, glam e tudo mais que seja igual a outras pessoas, outros dias, outros tempos. Eu odeio registros que nunca vão sair do lugar só pra me dizer que as pessoas são iguais, que as circunstâncias são diferentes, mas que podemos repetir muitos fatos até ficar tudo igual, tudo eu, tudo bom, só eu. Quero aprender a parar de me espantar com tudo que há de lindo, parar de pensar que isso foi feito para mim (eu). Odeio a natureza e odeio o ser humano. E não amo ninguém, apenas a mim mesma, como todos. Logicamente possível e empiricamente comprovado. E se eu quero que alguém se importe de verdade com o que eu passo na vida, não vou aumentar o sofrimento. No máximo, vou coletar esboços aqui e ali de reações de várias pessoas iguais e o que vier é lucro para um possível conforto.

Enquanto isso, quero apenas distância de todo e qualquer ser humano. Enquanto isso, continuo desejando mal a essa raça sem enxergar qualquer contradição. Enquanto isso, prefiro conversar cinicamente com o Fred. Enquanto isso, uma faca na garganta de um filho da puta não seria nada mal.

((If it´s all in your head, I won´t let it be, I won´t let it be))

segunda-feira, outubro 18, 2004

Indícios pessoais de insanidade

Duvidar séria e demoradamente acerca da existência da múltipla personalidade. Achar que é de verdade e que está aí.

Não conseguir realizar tarefas simples, como pagar uma conta em caixas eletrônicos, internet, ou pessoalmente no banco.

Ter preguiça, uma preguiça incrível de deitar e dormir.

Derrubar a chave do carro na rua sem sentir, dormir, acordar, achar a chave em cima do piano em não ter a menor idéia de como ela foi parar ali. Não achar estranho. Saber o que aconteceu quase 24 horas depois. No dia seguinte, esquecer o vidro do carro aberto e também não saber que esqueceu.

Não dar a menor importância para um pedaço de papel dizendo que escolhi uma maldita profissão na qual me vejo perdendo tudo o que tenho na cabeça. Não querer voltar a ver várias pessoas que fizeram a mesma opção. Todas as pessoas que fizeram a mesma opção no mesmo espaço de tempo.

Não ter e não querer ter o menor contato pessoal, físico, verbal ou íntimo com qualquer pessoa que seja por mais de dois dias seguidos, repetidamente.

Passar mais de dez horas olhando o teto, completamente lúcida e sem sentir dor.

Ser “mal educada pra caramba” com o maior orgulho do mundo.

Rir só de ouvir falar em doenças degenerativas do cérebro.


((I SAY HIGH. YOU SAY LOW.))
((YOU SAY WHY. I SAY I DON´T KNOW. OH NO))

quinta-feira, outubro 14, 2004

Os espinhos são para quem pensa em enganar a flor

Qual o problema de ser feliz por apenas alguns minutos diários? Não há problema, mas incômodo. Para que nada de mal aconteça, tudo tem que estar sempre mal. Péssimo. Aí não há perigo de haver péssimas notícias. Ou pelo menos, se não houver felicidade, não há o que estrague a felicidade. Nem por alguns minutos. A insistência em não realizar o que está só esperando ser realizado é para não correr o risco de estragar tudo. Só falta colocar em ordem, como já foi dito. O pensamento está aqui, mas não tem ordem ainda. Ou não tem coragem de aparecer. Ou aparece nos piores momentos.

A luz laranja que sai dos olhos mais bonitos do mundo, que olha as coisas como se elas fossem lindas, podiam ser meus. E não são. Nem meus nem de ninguém. E se eu pedir para aumentar o volume da voz, tenho certeza que serei compreendida, atendida rapidamente. O melhor é não precisar de explicações. De não ter que detalhar um pedido qualquer, por mais complexo. Um festival budista ou a torre de TV.

Um brinquedo pode ser capaz de ler a minha mente, mas não a sua.

Pura falta de tempo de não ficar sozinha. É uma coisa de só eu mesma me suportar, agüentar firme a melancolia que não se define perante o fingimento puro e o conforto. Conversas sem fim me assombram. Gosto mais é de falar em silêncio.

quarta-feira, outubro 13, 2004

O que eu queria

O que eu queria dizer simplesmente não saiu da minha boca.

Uma morta. Uma morta e feia. A morta é feia.

Como os medíocres não têm o que dizer.

Uma sala escura e trancada, não há quem faria isso comigo.

Eu já disse o que sei, só falta colocar ordem.

Mas vamos ver como vai ficar agora que eu descobri que as coisas funcionam assim.

Mas eu fui embora porque quis. Não foi?

São essas as pessoas que têm vida.

Eu sou assim. Uma chata ideal.

Foguetes e cometas que ainda não atingiram as idéias certas.

Não seria demais o que eu queria. Se não, chorar. E muito.

Uma vaca grande, correndo no asfalto. A boca de perto, a língua pendurada.

Seu dia começa e sua cabeça já dói. Ela não precisa mais de você.

Muito tempo, muito tarde. Cozinha, copo, água, remédio, mil goles.

150 chicletes
Dois automóveis
Três dias de mais emprego
Cinco folhas de alface
Mais de 40 km, com certeza
Duas cidades e uma é aqui
Dois amigos, não pode
Dois beatles bregas
Uma casa de chá

sexta-feira, outubro 08, 2004

Porque isso tudo de amor é sobre mim

A mentira supera a verdade em muitos quesitos. Mas não deixa de ser a mais pura mentira. Tenho um ódio verdadeiro crescendo e uma miséria inteira dentro de mim. Uma miséria solitária que vem suspirando cada vez mais satisfeita por pertencer a mim. Não importa o que digam (as pessoas sempre têm algo reconfortante para dizer quando eu menos preciso) nada vai mudar a minha qualidade de pessoa mais mentirosa que já existiu. Não há abraço ou aperto de mão, não há contrato assinado nem olhar profundo que me faça melhorar. Estar convencido de que se é insignificante é sinal de lucidez. A mais pura e mentirosa (não vai deixar de ser) lucidez.

E se agora eu não consigo e nem quero encarar ninguém a culpa é exclusivamente minha. A minha lucidez e arrogância. A vontade de ser ou parecer perfeita. Não há manual para isso. São anos e anos de experiência mórbida de autoconhecimento. Não há droga que cure, não há comédia que melhore, não há palavra cruzada. Não há ópio suficiente no mundo. Não há plástica de nariz ou obturação.

É um inferno. E que espanto é esse? A vida é assim.

Não vou mais incomodar ninguém com excessos de raciocínio. E não vai mais precisar vir até aqui dizer que tudo está bem, que o pior já passou ou então que muito mais dificuldade virá. Envergonha-me fazer com que todos saibam, mas as palavras de conforto ensaiadas e melhoradas não mais fazem efeito. Pelo contrário, causam alergia e irritação. São mortais.

Se você quiser abusar da minha boa vontade, seja um genuíno filho da puta. Não um qualquer. Não me trate assim, apenas faça o que acha direito e eu ficarei satisfeita. Sua, então foda-se. As putas também fumam.

Porque isso tudo de amor é sobre mim, só eu. Eu quero ganhar alguma coisa nessa merda de vida. Sou eu e mais ninguém. Não tem isso de você e outras pessoas. Sou eu tentando ganhar o meu.

terça-feira, outubro 05, 2004

Everybody must get stoned

Não sei mesmo dizer se ouvi ou não o despertador tocar. Sei é que torci de verdade para não acordar hoje e não ver tudo dando errado de novo, e de novo. Não que dê errado mesmo, é só que nada acontece de verdade. Mais irritante ainda é essa chuva de três dias. E tem também aquilo de não se livrar das coisas da cabeça, isso que não passa. Pior ainda é pensar em arrumar a cama quando na verdade os músculos já se mexeram pra isso ontem, semana passada. E é isso todo dia, arrumar a cama, esticar o lençol para dez minutos depois deitar sem poder fazer um só movimento, uma vontade louca de deitar e fechar os olhos. Daí fechar os olhos e ver que não tem sonho, que não tem sono, que não tem pensamento bom. É só vontade de fazer alguma coisa bem ridícula ou errada, alguma coisa que mude o estado de pré-coma.

A música é incrivelmente brega, mas não tem problema. Quem inventou as calças de seda para pijama? Japoneses, orientais. Dizem que o bicho da seda é tão ou mais importante, em termos de invenção, quanto os maiores cientistas. O vizinho é brega, mas faz companhia. Quem se importa se os pijamas de seda estão aí?

E não dá para não pensar se a cabeça fica latejando para sempre e a consciência dizendo que está tudo uma grande merda. Ficar estátua não é uma boa idéia, mas pelos menos não desarruma a cama, que foi toda pensada por alguém que tinha muito o que fazer e não via a inutilidade na arrumação diária. Garganta estourada e o pescoço que não se sustenta por muito tempo.

O vinho, os vinhos. A dor de cabeça quando começa a amanhecer. E a música brega. Caso o telefone tocasse poderia até rir das repetições do andar de cima. Ou da frase sobre bichos de seda. Mas nada vai acontecer enquanto as melhores e mais impensadas atitudes não forem tomadas. Lição número um ou apenas uma idéia idiota? Perguntas sem respostas como aquela sobre o bicho de seda. Bicho da seda. Foda-se.

A garganta estourando e ainda assim eu grito. É verdade que eu não falo baixo quando sei que estou certa. E em quase todas as vezes quando o álcool está por perto todo mundo tem certeza de tudo. E que eu estou virando uma bêbada deprimente, disso todo mundo sabe, nem precisa ter certeza. É engraçado mas agora mesmo estou certa de que alguma atitude perdida devia ter sido tomada. Sou feliz demais para dizer que poderia me matar, mas se pelo menos eu morresse sem querer, já teria a ver com o alívio.

A luz do abajur é rosada e os corações da calça do pijama também. Queria ter feito mais por mim mesma durante os anos em que podia. Mas agora é coisa de ser tarde. É coisa de ser enjoada, de ser atrasada, de ser retrógrado demais. De ser inútil, de ter chegado na hora errada ou ter um bode na sala. O mesmo tipo de música deprimente cantada em inglês e francês. Uma coletânea de novela. Greatest hits. Novelas. Love songs. Uma merda grande.

Respirar sem pensar. Se pensar, é sufocar. Estar errado é profundamente irritante para qualquer um. Queria acreditar que aquilo tudo era mesmo sem sentido, que era inútil, a coisa mais inútil do mundo. Queria mesmo recuperar a lucidez e parar de pensar que perdi a chance da vida de ter chegado até o fim em alguma coisa, mesmo que fosse aquilo. E era muito fácil tomar uma atitude de vez, estava tudo nas mãos quando tomei a decisão, novamente, de esperar pelos outros. Repetição, assunto recorrente, mas quem se importa? Se for assim o jeito que a pessoa encontra de ter forças para tomar o próximo copo d’água no dia, não há problema. Dizem que o ideal diário é 8 litros. Bem mais da metade disso, dependendo do grau da concentração de tentar viver sendo triste. De segurar a alegria para momentos banais, desperdiçar propositalmente. Por mais que digam tudo a respeito do meu sorriso, não me lembro de sorrir muito. Não sinto ter sorrido esse tanto.

Às três da manhã começou a prestar atenção na luta de boxe. Uma luta decisiva qualquer. Chorou soluços. Sem lágrimas mesmo. Sem sentido. Contorcendo-se na cama até pegar no sono pesado.