sexta-feira, outubro 08, 2004

Porque isso tudo de amor é sobre mim

A mentira supera a verdade em muitos quesitos. Mas não deixa de ser a mais pura mentira. Tenho um ódio verdadeiro crescendo e uma miséria inteira dentro de mim. Uma miséria solitária que vem suspirando cada vez mais satisfeita por pertencer a mim. Não importa o que digam (as pessoas sempre têm algo reconfortante para dizer quando eu menos preciso) nada vai mudar a minha qualidade de pessoa mais mentirosa que já existiu. Não há abraço ou aperto de mão, não há contrato assinado nem olhar profundo que me faça melhorar. Estar convencido de que se é insignificante é sinal de lucidez. A mais pura e mentirosa (não vai deixar de ser) lucidez.

E se agora eu não consigo e nem quero encarar ninguém a culpa é exclusivamente minha. A minha lucidez e arrogância. A vontade de ser ou parecer perfeita. Não há manual para isso. São anos e anos de experiência mórbida de autoconhecimento. Não há droga que cure, não há comédia que melhore, não há palavra cruzada. Não há ópio suficiente no mundo. Não há plástica de nariz ou obturação.

É um inferno. E que espanto é esse? A vida é assim.

Não vou mais incomodar ninguém com excessos de raciocínio. E não vai mais precisar vir até aqui dizer que tudo está bem, que o pior já passou ou então que muito mais dificuldade virá. Envergonha-me fazer com que todos saibam, mas as palavras de conforto ensaiadas e melhoradas não mais fazem efeito. Pelo contrário, causam alergia e irritação. São mortais.

Se você quiser abusar da minha boa vontade, seja um genuíno filho da puta. Não um qualquer. Não me trate assim, apenas faça o que acha direito e eu ficarei satisfeita. Sua, então foda-se. As putas também fumam.

Porque isso tudo de amor é sobre mim, só eu. Eu quero ganhar alguma coisa nessa merda de vida. Sou eu e mais ninguém. Não tem isso de você e outras pessoas. Sou eu tentando ganhar o meu.