terça-feira, outubro 05, 2004

Everybody must get stoned

Não sei mesmo dizer se ouvi ou não o despertador tocar. Sei é que torci de verdade para não acordar hoje e não ver tudo dando errado de novo, e de novo. Não que dê errado mesmo, é só que nada acontece de verdade. Mais irritante ainda é essa chuva de três dias. E tem também aquilo de não se livrar das coisas da cabeça, isso que não passa. Pior ainda é pensar em arrumar a cama quando na verdade os músculos já se mexeram pra isso ontem, semana passada. E é isso todo dia, arrumar a cama, esticar o lençol para dez minutos depois deitar sem poder fazer um só movimento, uma vontade louca de deitar e fechar os olhos. Daí fechar os olhos e ver que não tem sonho, que não tem sono, que não tem pensamento bom. É só vontade de fazer alguma coisa bem ridícula ou errada, alguma coisa que mude o estado de pré-coma.

A música é incrivelmente brega, mas não tem problema. Quem inventou as calças de seda para pijama? Japoneses, orientais. Dizem que o bicho da seda é tão ou mais importante, em termos de invenção, quanto os maiores cientistas. O vizinho é brega, mas faz companhia. Quem se importa se os pijamas de seda estão aí?

E não dá para não pensar se a cabeça fica latejando para sempre e a consciência dizendo que está tudo uma grande merda. Ficar estátua não é uma boa idéia, mas pelos menos não desarruma a cama, que foi toda pensada por alguém que tinha muito o que fazer e não via a inutilidade na arrumação diária. Garganta estourada e o pescoço que não se sustenta por muito tempo.

O vinho, os vinhos. A dor de cabeça quando começa a amanhecer. E a música brega. Caso o telefone tocasse poderia até rir das repetições do andar de cima. Ou da frase sobre bichos de seda. Mas nada vai acontecer enquanto as melhores e mais impensadas atitudes não forem tomadas. Lição número um ou apenas uma idéia idiota? Perguntas sem respostas como aquela sobre o bicho de seda. Bicho da seda. Foda-se.

A garganta estourando e ainda assim eu grito. É verdade que eu não falo baixo quando sei que estou certa. E em quase todas as vezes quando o álcool está por perto todo mundo tem certeza de tudo. E que eu estou virando uma bêbada deprimente, disso todo mundo sabe, nem precisa ter certeza. É engraçado mas agora mesmo estou certa de que alguma atitude perdida devia ter sido tomada. Sou feliz demais para dizer que poderia me matar, mas se pelo menos eu morresse sem querer, já teria a ver com o alívio.

A luz do abajur é rosada e os corações da calça do pijama também. Queria ter feito mais por mim mesma durante os anos em que podia. Mas agora é coisa de ser tarde. É coisa de ser enjoada, de ser atrasada, de ser retrógrado demais. De ser inútil, de ter chegado na hora errada ou ter um bode na sala. O mesmo tipo de música deprimente cantada em inglês e francês. Uma coletânea de novela. Greatest hits. Novelas. Love songs. Uma merda grande.

Respirar sem pensar. Se pensar, é sufocar. Estar errado é profundamente irritante para qualquer um. Queria acreditar que aquilo tudo era mesmo sem sentido, que era inútil, a coisa mais inútil do mundo. Queria mesmo recuperar a lucidez e parar de pensar que perdi a chance da vida de ter chegado até o fim em alguma coisa, mesmo que fosse aquilo. E era muito fácil tomar uma atitude de vez, estava tudo nas mãos quando tomei a decisão, novamente, de esperar pelos outros. Repetição, assunto recorrente, mas quem se importa? Se for assim o jeito que a pessoa encontra de ter forças para tomar o próximo copo d’água no dia, não há problema. Dizem que o ideal diário é 8 litros. Bem mais da metade disso, dependendo do grau da concentração de tentar viver sendo triste. De segurar a alegria para momentos banais, desperdiçar propositalmente. Por mais que digam tudo a respeito do meu sorriso, não me lembro de sorrir muito. Não sinto ter sorrido esse tanto.

Às três da manhã começou a prestar atenção na luta de boxe. Uma luta decisiva qualquer. Chorou soluços. Sem lágrimas mesmo. Sem sentido. Contorcendo-se na cama até pegar no sono pesado.

1 Comments:

At 9:25 PM, Anonymous Anônimo said...

O re-álcool. Ál-coll. A
preferência pelo retrô.
A T I V O .

 

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