domingo, agosto 27, 2006

Resultado de um decalque

Ou: como fabricar camisetas em silkscreen – Produto final mais barato

Se fosse desfazer-se de tudo aquilo de ilusão, tudo de acessório, quase nada restaria. Se todas as capacidades aparentes fossem deixadas de lado. Apenas mais uma pessoa comum, com dúvidas medíocres e infantis, prosaicas. Meticulosamente comum; previsível até naquilo que faz errado. Tem os problemas esperados, que aparecem sempre quando podem ser resolvidos, dá voltas imaginárias para tentar sair do caminho gigantesco, tão normal. Nada absolutamente consegue romper o destino da normalidade absoluta.

Abre logo mão do que acham que você é, do potencial imaginário, aos olhos dos outros. Atire os livros para longe, filmes imbecis, discos, autores que já morreram, os seus idiomas, todas as malditas coisas que te grudam no mundo e te dão o teu nome, sobrenome e sorriso. Seja o verdadeiro.

Servirei refeições em um restaurante de Catalão (GO). Longe do caixa, já que não sei somar os ímpares nem os centavos. Serei infeliz como agora. Um pouco mais transparente.

Todos os procedimentos necessários para efetuar os referidos decalques estão normalmente descritos em pormenor nas embalagens do papel de transferência; sua leitura será obrigatória.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Pois é, não deu

Tenho perdido muito das palavras bestas que sempre me acompanharam por me deter cada vez mais no significado delas e no efeito real que possa ter causado. Deixo de lado o urgente e passo a me dedicar à beleza do óbvio, não o óbvio ele mesmo. Evitei ao máximo, mas tive que sair, viajar. O antidepressivo faz dormir e aceitar a distância, a velocidade e a altura. Depois de ouvir do taxista que o passageiro mais anormal pediu para descer lá, na Ponte Rio-Niterói, e simplesmente pulou; depois de ouvir no ônibus para Praça XV como se divertem as pessoas que cuidam de velhinhos em Copacabana e moram em Belford Roxo; depois de falar sobre Pascal com um desconhecido no Saara lotado; depois de entrar de chinelo no restaurante e pagar com cartão de débito a refeição mais cara da vida; depois de ouvir o discurso separatista paulistano por toda parte. E ninguém entendeu o que eu fazia sozinha no 17º andar de um quarto de hotel minúsculo na Consolação em pleno domingo. O dia inteiro para me desfazer de palavras e obviedades múltiplas, tudo o que me fazia tão estranha entre avenidas novas, chuva fina, metrô, barca, táxi, bar, aeroporto.